quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Resumo: Vygotsky – uma psicologia de perspectiva histórico cultural Introdução

A obra de Vygotsky busca um modelo explicativo que contemple os mecanismos cerebrais do funcionamento psicológico e a constituição do sujeito no processo histórico cultural. Como método de análise para esse modelo, Vygotsky utiliza os princípios interpretativos gerais do materialismo dialético de Marx e Engels. Uma das principais postulações do materialismo dialético da obra de Vygotsky é de que o ser humano transforma-se de biológico em histórico, num processo em que a cultura é parte essencial da constituição da natureza humana. Por isso, conceitos como, pensamento e linguagem, fala e pensamento, fala e escrita, biológico e cultural, indivíduo e sociedade, desenvolvimento e aprendizagem, conceitos cotidianos e científicos, não são dualismos, apesar da natureza diferenciada não se contrapõem, mas interagem. A relação entre o processo de desenvolvimento e linguagem é central em sua obra. Sua posição é genética: procura compreender a gênese: isto é a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos. Sua abordagem genética desdobra-se em quatro níveis: filogenético (desenvolvimento da espécie humana), sociogenético (história dos grupos sociais), ontogenético (desenvolvimento do indivíduo) e microgenético (desenvolvimento de aspectos específicos do repertório psicológico dos sujeitos – singularidades). As proposições de Vygostky remetem à discussão sobre: pensamento e linguagem, mediação cultural no processo de construção de significados, processo de internalização e o papel da escola na transmissão de conhecimentos (formação de conceitos cotidianos e científicos). 1. Pensamento, linguagem, mediação e internalização O fundamento do funcionamento psicológico tipicamente humano é cultural, e, portanto histórico. As relações de interação entre os seres humanos não é direta, mas mediada, através de elementos de mediação que são construídos nas relações humanas, como: instrumentos, signos e todos os elementos do ambientes humanos carregados de significado cultural. O olhar de Vygotsky sobre o desenvolvimento da espécie humana (filogênese) busca raízes das características humanas no comportamento dos primatas superiores, ao mesmo tempo em que enfatiza a importância da diferença qualitativa entre os seres humanos e os outros animais. Emerge então a importância da língua e suas relações com o funcionamento psicológico humano O surgimento do pensamento verbal e da língua como sistema de signos é crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico transforma-se em histórico em que emerge a centralidade da mediação semiótica na constituição do psiquismo humano. O surgimento da língua é atribuído por Vygotsky à necessidade de intercâmbio entre os indivíduos durante o trabalho, atividade especificamente humana. Os seres humanos não herdam somente as características físicas e as experiências individuais, mas sua vida, seu trabalho, sua língua, seu comportamento se baseiam na experiência histórica e cultural, aquilo que não foi vivenciado diretamente pelo sujeito, mas está nas experiências de outros e nas conquistas acumuladas por aqueles que o antecederam, e se utiliza da experiência duplicada, isto é vivida, antes de ser vivida, o que permite adaptação ativa ao meio. Para entendermos um pouco sobre a relação linguagem e pensamento e a formação de conceitos, é necessário que entendamos a sua concepção sobre o cérebro humano. Sobre o funcionamento do cérebro humano, o autor fundamenta-se na idéia que as funções psicológicas superiores (capacidades que envolvem consciência, intenção, planejamento, ações voluntárias e deliberadas) são construídas ao longo da história social dos seres humanos, com relação mediada por instrumentos, signos, pois são de natureza cultural e de origem social. Sendo assim a compreensão do desenvolvimento dos seres humanos não pode ser buscada em propriedades naturais, pois as funções mentais não são fixas e imutáveis, mas o cérebro é sim um sistema aberto, de grande plasticidade, que pode servir a outras funções, criadas na história da humanidade, sem que sejam necessárias transformações no órgão físico. Instrumentos e signos construídos socialmente definem quais das inúmeras possibilidades de funcionamento cerebral serão efetivamente concretizadas ao longo do desenvolvimento e mobilizadas na realização de tarefas diferentes.
O processo de mediação é essencial para o entendimento desse processo, pois os seres têm uma relação com o mundo mediada, ou seja, feita através de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos que dispõe. O processo de mediação refere-se a processo de representação mental, cujo ser humano é capaz de operar com conteúdo mental de natureza simbólica, que possibilita fazer relações mentais na ausência dos referentes concretos, que transcenda o tempo e o espaço, além do conseqüente desenvolvimento da abstração e generalização. A linguagem então se apresenta como um desses sistemas simbólicos, pois representa um salto qualitativo no desenvolvimento do indivíduo e da espécie humana. Essa interpretação de dados da vida real, a partir da mediação cultural com sistemas simbólicos, é chamada de internalização, “reconstrução interna de uma operação [de natureza semiótica] externa”. É a conversão de significados culturais a significados próprios; é o conteúdo simbólico historicamente construído na humanidade, que é internalizado (inter-psicológico) e se transforma (intra-psicológico), ocasionando assim a constituição da singularidade do sujeito social. 2. Formação de conceitos A linguagem humana é um sistema simbólico fundamental no processo de mediação. A linguagem é o instrumento que permite ao ser humano planejar coletivamente suas ações, por isso faz parte das funções psicológicas superiores. Nessa abordagem, a criança quando aprende a linguagem falada, já verbaliza o pensamento, torna-se suscetível à repetição e à analise, ao mesmo tempo lançando mão de suas construções intelectuais, intelectualiza a fala. Essa dupla complementação faz da linguagem a ferramenta fundamental que põe o ser humano no universo da racionalidade. Entre o aparelho perceptual e o mundo interpõe-se a lógica do pensamento, que simplifica e categoriza a realidade, tornando-a susceptível de ser nomeada e apreendida pela linguagem. A linguagem internalizada passa a representar essas categorias e a funcionar como instrumento de organização de conhecimento. Essa categorização passa pela ordenação do real, em redes de significados dados pela interação com o outro; as palavras funcionam como papel de meio e depois como símbolos dos conceitos. Os seres humanos constroem conceitos que podem ser cotidianos e espontâneos e científicos. Os conceitos cotidianos e espontâneos são construídos nas ações de interação pelos seres em suas relações sociais mais comuns. Os conceitos científicos estão voltados ao contexto escolar e sua relação com conhecimentos científicos. Isso quer dizer que a construção desses conceitos parte de ação deliberada meta cognitiva dos alunos, deliberado de suas operações mentais, referindo-se diretamente ao conhecimento científico e por fim interagindo com os conceitos cotidianos e espontâneos. Para Vygotsky, a escola passa a ter papel fundamental, pois a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. A intervenção deliberada de um indivíduo sobre o outro é um postulado básico dessa teoria. A aprendizagem é fundamental desde o nascimento, pois desperta processos internos de desenvolvimento que só podem ocorrer quando o indivíduo interage com outras pessoas. 3. Zona de desenvolvimento Proximal A abordagem de Vygotsky atribuía, para o desenvolvimento de funções superiores dos indivíduos, uma grande importância à escola. Para o autor a instrução e o aprendizado na escola estão avançados em relação ao desenvolvimento cognitivo da criança. Vygotsky propõem um paralelo entre o brinquedo e a instrução escolar: ambos criam uma zona de desenvolvimento proximal e em ambos os contextos a criança elabora habilidades e conhecimentos socialmente disponíveis que passará a internalizar. Segundo Vygotsky, essa zona de desenvolvimento proximal é “a distância entre o nível real de desenvolvimento determinado pela resolução de problemas independentemente e o nível de desenvolvimento potencial determinado pela orientação de adultos ou em colaboração com companheiros mais capacitados.” Daí surge, a necessidade de classes heterogêneas de forma a possibilitar o avanço da aprendizagem e do desenvolvimento através de ações mediadas com os outros. Bibliografia Formação Social da Mente. L. S. Vygotsky, Martins Fontes, 1998. Pensamento e linguagem. L. S. Vygotsky. Martins Fontes 1995. Vygostsky – aprendizado e desenvolvimento – Um processo sócio histórico. Marta Kohl de Oliveira, Scipione, 1999. “Vygotsky e o processo de formação de conceitos” de Martha Kohl de Oliveira in Piaget, Vygotsky e Wallon de Yves de La Taille et alii. Summus, 1994. Estudos Socioculturais da Mente. J. V. Wertsh (org.), Artmed, 2002. Revista Memória da Pedagogia- Especial Lev Semenovich Vygotsky – Uma Educação Dialética. Editora Duetto – 2006. Preparado por Rosemeire Rodrigues dos Santos - julho de 2007

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