sábado, 31 de julho de 2010

Mineroduto da Samarco se rompe entre Minas e ES e deixa cidades sem água




O acidente aconteceu por volta das 4h deste domingo
Por Redação Multimídia ES Hoje (redacao@eshoje.com.br) Foto: Divulgação / Secretaria de Meio Ambiente de Espera Feliz.

Um mineroduto que transporta minério de Minas Gerais para o Espírito Santo se rompeu na altura no Rio São Sebastião, no município de Espera Feliz, na Zona da Mata, na madrugada deste domingo (25). A captação de água para abastecimento foi interrompida pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), a pedido da prefeitura. A cidade tem 22 mil habitantes está usando água dos reservatórios.

O vazamento deixou uma mancha vermelha, o que pode ter levado a morte muitos peixes por falta de oxigênio na água no rio. Como o rio Sebastião é um dos afluentes da bacia do Itabapoana a expectativa é que as cidades de Guaçuí, Dores do Rio Preto, Natividade, Varresai, Porciúncula, São José do Calçado, Bom Jesus do Norte, Bom Jesus do Itabapoana, Campos e São Francisco do Itabapoana, também sintam os efeitos do derramamento.

"Um pouco abaixo do São Sebastião existe a confluência dos três estados Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, por isso, a mancha já deve estar chegando nas cidades mais próximas como Guaçuí. A empresa diz que não é tóxico, mas muitos peixes estão morrendo", relatou o secretário de Meio Ambiente de Espera Feliz, Renato Milhiolo.

Segundo a mineradora Samarco, responsável pelo mineroduto, o produto não é tóxico, mas deixa a água escura. A Samarco informou que forneceu quatro caminhões-pipa foram para abastecer a cidade e providenciou um outro ponto de captação de água.
O vazamento aconteceu no duto mais recente da empresa que tem cerca de dois anos, a mistura que foi parar no rio contém amido, minério de ferro em pó e cal. "Como a cidade de Caina fica bem ao lado a mancha já chegou lá também. Agora são 30 mil pessoas atingidas. Vamos decretar situação de emergência em Espera Feliz", afirma Renato.

De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o mineroduto foi construído há dois anos e tem seu ponto mais alto na cidade de Espera Feliz. Segundo o Secretário de Meio Ambiente da cidade, Renato Milhiolo, 70% do abastecimento do município é feito pelo Rio São Sebastião.

O acidente aconteceu por volta das 4h deste domingo. De acordo com a mineradora, duas horas depois, o bombeamento de minério foi interrompido para realização de reparos. Ainda segundo a empresa, a vazão do produto derramado no rio ainda não foi calculada. A Samarco divulgou que as causas do acidente estão sendo apuradas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

BP, uma bomba relógio no sistema financeiro internacional





Segundo Michael R. Kratke, Professor de Economia Política e Diretor do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de Lancaster no Reino Unido, a BP é uma bomba de relógio no sistema financeiro mundial. A empresa refinancia-se com derivados creditícios e fundos de pensões que agora, e para infelicidade dos seus clientes, têm grandes perdas. Dois elementos tão centrais como obsoletos do atual capitalismo – uma economia baseada na energia fóssil e na especulação financeira à escala planetária – levam-nos diretamente à próxima catástrofe.

Michael Kratke - Sin Permiso

O que começou como uma crise financeira em setembro de 2008, com a irrevogável falência do banco Lehman-Brothers, pode agora entrar na próxima ronda com a previsível queda da BP. A transnacional britânica é uma bomba relógio financeira, não só para a Grã-Bretanha mas para todo o Reino Unido. Os custos do desastre petrolífero no Golfo do México estimam-se em 70 bilhões de dólares.

Para os britânicos, a BP é como instituição nacional, a maior sociedade anônima do país, a blue chip mais brilhante do mercado de valores londrino. Muitas pessoas julgam que a BP é uma empresa petrolífera. E é verdade. A BP fornece petróleo, tem oleodutos e refinarias um pouco espalhados por todo o mundo. Mas a BP é, simultaneamente, um banco com um raio de ação internacional que, tal como a Enron ou a General Motors, actua nos mercados financeiros internacionais.

De AA a BBB

Como, oficialmente, não é uma entidade financeira, a British Petroleum esta a meio caminho de ser um negócio OTC ou fora do mercado organizado de valores, isto é, que atua fora das bolsas, num negócio sem regulação nem controle. O refinanciamento é através da titularização de derivados creditícios de alto risco, CSOs [obrigações colaterais sintéticas, na sua sigla inglesa], a que não corresponde qualquer valor patrimonial, mas apenas derivados creditícios. São um próspero comércio esses derivados financeiros. A BP é detentora ou tem participações em pelo menos 18% dos papéis deste tipo que circulam por todo o mundo. Recordamos que a crise financeira mundial foi desencadeada pela queda em cadeia de derivados titularizados: as CDOs [obrigações de dívida colateral, na sua sigla inglesa] e os CDS [derivados creditícios de dívida, na sua sigla inglesa]. Agora, os riscos nas CSOs são muito maiores e o alavancamento creditício de maior envergadura e as regulações são desconhecidas.

Por outras palavras: Quando a BP quebrar, a sua falência terá consequências globais. Como supostamente sucedeu no caso Lehman-Brothers, ninguém sabe até que ponto a BP está endividada, nem quem nem em que jogos de azar estão envolvidos os créditos da BP. Mas, como a transnacional é considerada a pérola da coroa da indústria financeira britânica, com fundamento se pode suspeitar que estão aqui metidos todos os que gozam de reputação e hierarquia no mundo financeiro internacional. Não há dúvidas: a próxima bolha está prestes a rebentar. É só uma questão de tempo. Mais provável dentro de semanas que de meses.

O valor patrimonial das instalações da British Petroleum atinge agora o montante de 240 bilhões de dólares. Muitos dos seus campos petrolíferos e participações estão à venda por todo o mundo. Desde finais de abril, perdeu metade do seu valor em bolsa. Deverá entrar um investidor estratégico, provavelmente um fundo estratégico árabe. Os líbios querem ser uma opção mas ninguém se balança a tamanho risco. E os meros boatos de uma entrada de mil milionários árabes não convencem as agências de qualificação do risco.

A Fitch, a menor das três grandes, baixou drasticamente no passado dia 15 de junho a qualificação do gigante petrolífero, pela segunda vez em duas semanas: e desta vez nada menos do que seis escalões de uma vezada, de AA para BBB. Se as duas grandes – a Moody’s e a Standard & Poor’s – a seguirem, os empréstimos da BP baixarão à categoria de lixo, como os títulos da dívida pública grega. De qualquer modo, grandes investidores destas agências, como Warren Buffet, colocaram milhares de milhões em ações e obrigações da BP, o que explica a moderação da Moody’s e da Standard & Poor’s.

Nada de OPAs hostis

Entretanto, a BP teve que ceder à pressão do governo dos EUA e sujeitar-se a um fundo de garantias num montante de 20 bilhões de dólares. Pelo menos até ao próximo ano a BP não poderá continuar a pagar dividendos, terá que seguir uma política de poupança férrea e eliminar milhares de postos de trabalho, os primeiros 5.000 já em 2010. Há fortes indícios que levam à suspeita que a explosão do passado dia 20 de abril no Golfo do México assenta numa implacável política de redução de custos. A segurança e o cuidado, como é sobejamente sabido, custam tempo e dinheiro. Quem louva o capitalismo pela sua eficiência não sabe do que fala. Ou se sabe, dá a entender aquilo em que não acredita.

A questão é que Londres prepara-se para o pior. Debaixo de um clamoroso silêncio acompanhado de rotundos desmentidos, trabalha-se em planos de emergência. A queda descontrolada ou uma tomada de controle da BP seria uma catástrofe para os britânicos. As ações da BP têm fama em todo o mundo de investimentos seguros e lucrativos. A BP pagava regularmente, trimestre a trimestre, polpudos dividendos.

Os fundos de pensões, os maiores investidores institucionais nos mercados financeiros internacionais, compravam e mantinha enormes quantidades de acções da BP. E no sistema britânico de reformas os fundos de pensões jogam um papel chave. Só que, precisamente os rendimentos de reforma cobertas por capital são tudo menos seguros. Quando rebentou a bolha imobiliária estadunidense em 2008, muitos fundos de pensões resultaram em prejuízos dos depositantes e pensionistas. Para os fundos de investimento britânicos que há alguns anos investiam em acções da BP, a catástrofe petrolífera é ao mesmo tempo um desastre financeiro. Cerca de um sexto de todos os dividendos que se pagam no Reino Unido vêm da BP! Assim, os fundos perderam de três formas: patrimonialmente pela queda livre das ações da BP, pelos dividendos evaporados, e pela diminuída capacidade de crédito.

Os fundos de pensões perderam já muito dinheiro com as ações dos bancos e, agora, cai-lhes em cima a situação da BP. Se se calcularem as possíveis perdas tendo por base uma pensão média entre 12 mil e 13 mil libras esterlinas anuais, falamos de 800 a 1.000 libras esterlinas por ano. Daí, o governo do primeiro-ministro Cameron não ter escolha. Se a BP ajoelha, terá que intervir com um novo pacote milionário de resgate. Se foi necessário para os grandes bancos, não será menos necessário para a BP. Isso significa mais dívida pública e ainda mais desproporcionados pacotes de poupança.

A BP não pode desaparecer, pois ela é, de longe, um dos maiores contribuintes fiscais da Ilha e controla uma boa parte das infra-estruturas vitais do reino insular, como a Forties Pipeline System que liga mais de 50 campos petrolíferos no Mar do Norte, ou o oleoduto Baku-Tiblisi-Ceihan, que possibilita o trânsito de petróleo do Cáucaso para a Europa ocidental. Por isso, David Cameron anuncia que o seu governo fará tudo o que estiver ao seu alcance para impedir o controle da BP por empresas petrolíferas chinesas, árabes ou russas. Se a BP cai nas mãos das gigantes norte-americanas, acabaram-se as considerações para com os fundos de pensões ou para quaisquer outras necessidades britânicas. Dentro de poucos dias a BP tem que liquidar os pagamentos que se vencem no segundo trimestre de 2010. O seu montante é enorme.

Este caso ilustra com clareza como dois elementos tão centrais como obsoletos do capitalismo – uma economia baseada na energia fóssil e na especulação financeira planetária – nos aproximam do abismo da próxima catástrofe.

(*) Michael R. Krätke é Professor de Economia Política e Director do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de Lancaster no Reino Unido.

Este texto foi publicado dia 26 de Julho de 2010 em www.sinpermiso.info

Tradução de José Paulo Gascão

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sistema Minas -Rio: Maior Mineroduto do Mundo está sendo construido no Brasil







Sistema Minas-Rio: Maior Mineroduto do Mundo
está sendo construído no Brasil


Ele faz parte do Sistema Minas-Rio e ligará a mina e unidade de beneficiamento de minério de ferro da Anglo Ferrous Brazil, em Minas Gerais, ao Porto do Açu, no Rio de JaneiroO maior investimento mundial da mineradora Anglo American atualmente – US$ 3,6 bilhões - está localizado no Brasil.

Trata-se do Sistema Minas-Rio, da Anglo Ferrous Brazil (criada pela Anglo American em agosto de 2008), que inclui uma mina de minério de ferro em Conceição do Mato Dentro e uma unidade de beneficiamento em Alvorada de Minas, em Minas Gerais; um mineroduto com 525 km de extensão, que atravessa 32 municípios mineiros e fluminenses; e ainda a participação de 49% no terminal de minério do Porto do Açu, uma joint-venture com a LLX, uma das empresas do grupo EBX, de Eike Batista, situado em São João da Barra (RJ). Em 2012, quando o Sistema Minas-Rio entrar em operação, deverá produzir 26,5 milhões t anuais de minério de ferro.


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De acordo com Daniel Santos, diretor de Operações do Sistema Minas-Rio, a abertura da mina Serra do Sapo, que já tem a Licença Prévia, depende ainda da obtenção da Licença de Instalação. A mina será do tipo a céu aberto e dispõe de reservas de 1,5 bilhão t, com teor de 37,9% Fe2O3. Segundo ele, para a planta de beneficiamento já foram adquiridos todos os grandes equipamentos, mas os de pequeno porte, instrumentação, estruturas metálicas e tubulações ainda serão comprados. O início de construção da planta aguarda ainda a obtenção da licença de instalação.

Atualmente estão mobilizados 2.240 trabalhadores no canteiro de obras do mineroduto, que será finalizado até março de 2012, mas na fase de pico esse número chegará a 5.520. Dos 24 milhões m3 previstos de escavação, 10% já foram executados. A montagem do duto ainda não foi iniciada.
Já o Porto do Açu encontra-se em obras desde 2007 e atualmente conta com 2.234 trabalhadores nas obras. Foram construídos até o momento pouco mais de 2 km da ponte de acesso aos píeres.


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Mineroduto tem 13 canteiros operacionais

A Camargo Corrêa, empresa contratada para a construção do mineroduto, com base na concepção e projeto da PSI, iniciou a obra em abril de 2008, que consiste, basicamente, em duas partes: terraplenagem e montagem. A previsão de término da terraplenagem é em dezembro de 2010 e a montagem do duto tem sua previsão para janeiro de 2012.

Para tocar a projeto existem 13 canteiros operacionais e três canteiros administrativos, situados nos municípios de Nova Era e Urucânia, em Minas Gerais, e Itaperuna, no Rio de Janeiro. Nos canteiros operacionais os tubos, após curvados e concretados (quando necessários), serão levados por caminhões ao seu local de aplicação. Lá serão soldados, testados, revestidos, enterrados para posterior teste hidrostático (teste a alta pressão) e comissionamento.

A tubulação, fornecida pela Techint, foi fabricada no Japão e na Argentina e está sendo armazenada nos pátios de tubos. O diâmetro predominante do mineroduto é de 26 polegadas, mas em alguns trechos, como o de descida de serra, é de 24 polegadas. Os tubos são em aço carbono com especificação do material API 5L Gr. X70 e revestimento externo de polietileno extrudado de tripla camada. As espessuras variam de 0,406 polegadas a 0,906 polegadas.

Os tubos chegam até a obra com 12 m de extensão, onde serão soldados. A soldagem da tubulação utilizará processos manuais e automáticos. Nos manuais a soldagem é elétrica com eletrodo revestido (SMAW) e soldagem a arco com proteção gasosa e eletrodo de tungstênio (GTAW). Nos processos automáticos a soldagem é a arco submerso (SAW), soldagem a arco com eletrodo de tungstênio (GTAW), soldagem a arco, com eletrodo metálico e gás de proteção (GMAW), soldagem de arco em alma fundente com fluxo gasoso de proteção externa (FCAW).
Mas para atravessar os 525 km entre a unidade de beneficiamento e o porto, o mineroduto encontrará muitas interferências, principalmente rios, além da geografia montanhosa de Minas Gerais. Em alguns pontos será necessário utilizar a técnica de Furos Direcionais Horizontal (HDD), bem como túneis, entre os quais se destaca o localizado em Sem Peixe (MG), com 1.200 m de extensão.

Para instalação da tubulação serão abertas valas com 1,06 m de largura, utilizando escavadeiras hidráulicas para terreno de 1ª categoria e fresas nos locais onde houver material de 2ª e 3ª categorias. A cobertura da tubulação terá 0,76 m, no mínimo.
O projeto do mineroduto prevê ainda a construção de duas estações de bombeamento e uma estação de válvulas redutoras de pressão. A polpa contendo o minério de ferro deverá percorrer todo o trajeto do mineroduto em 85 horas e 14 minutos.

Em termos de engenharia, a construtora informa que o principal desafio a ser vencido é a redução do custo da implantação do mineroduto por meio de soluções de engenharia de terraplenagem e construtiva do duto. Na parte de logística, o ponto desafiador é garantir a produtividade esperada e, conseqüentemente, o cumprimento do cronograma, mesmo em face de impedimentos, como chuvas, por exemplo.

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Confira as principais etapas de construção de um mineroduto

* Projeto executivo: a exemplo de outras obras de grande porte, o mineroduto passa, primeiro, pela fase de projeto, com base em estudos geológicos, ambientais e de engenharia.
* Aberturas de pista e de vala: são executadas pela terraplanagem, fase atual das obras do mineroduto Minas-Rio.
* Desfle de tubos: a tubulação fica armazenada em 13 pátios até ser transferida para o campo. Será unida com solda, e as juntas receberão limpeza e revestimento para prevenir rupturas.
* Abaixamento: a tubulação será instalada nas valas e coberta por terra.
* Teste hidrostático: medição de pressão usando água em lugar do minério.
* Finalização: plantio de vegetação e proteção da faixa do mineroduto por cercas e placas, pois o acesso ao local é restrito.
* A construção das estações de bombas e de válvulas é feita após a obtenção de autorizações ambientais específicas. A EB1 e a EB2 do mineroduto Minas-Rio já obtiveram essas autorizações.
* Após o término das obras, o projeto executivo passa por uma revisão, para retratar exatamente o que tiver sido proposto.

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ROJETO MINAS-RIO CORTARÁ REGIÃO DE MURIAÉ



Publicado por silvan
17 de outubro de 2009

A região de Muriaé será cortada pelo projeto do Mineroduto Minas-Rio, que terá cerca de 525 quilômetros de extensão, saindo da região de Alvorada de Minas, passando por 32 municípios mineiros e ainda pelos municípios do Noroeste e Norte fluminense de Porciúncula, Natividade, Itaperuna e Bom Jesus de Itabapoana, Cardoso Moreira e Campos dos Goytacazes até o porto marítimo de Açu e futuras instalações de beneficiamento, localizados em São João da Barra. O projeto é da empresa Ferrous e LLX Minas-Rio. Na região de Rosário da Limeira, alguns produtores rurais já foram visitados por representantes da empresa que ainda fazem levantamentos e pede autorização para pesquisa. O que se sabe até o momento, é que o minério de ferro será transportado com água via tubulação que ficará subterrânea, cerca de 3 metros de profundidade. Uma faixa de terra de 30 metros de largura será destinada para a manutenção do mineroduto, e só será poderá ser plantado sobre a faixa, plantas de raízes rasas. Foto: Vista de Muriaé e distrito de Vermelho, do alto da Serra de Pirapanema

MPF pede paralisação de obras do mineroduto Minas-Rio

EDUARDO KATTAH E RAQUEL MASSOTE - Agencia Estado

O Ministério Público Federal (MPF) em Belo Horizonte informou hoje que ajuizou ação civil pública para suspender a continuidade das obras de instalação do mineroduto do Sistema Minas-Rio, empreendimento da Anglo American, que no ano passado adquiriu, por US$ 5,5 bilhões, o projeto de minério de ferro Minas-Rio da MMX, do empresário Eike Batista.

Anunciado como o maior do mundo, com aproximadamente 525 quilômetros de extensão, o mineroduto foi projetado para transportar a produção anual - de até 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro, a partir de 2012 - da mina Sapo-Ferrugem em Conceição do Mato Dentro, na região central de Minas, ao Porto de Açu, no Rio de Janeiro. A Anglo Ferrous Brasil, unidade criada pela Anglo American para a área de minério de ferro, está executando no Sistema Minas-Rio um investimento total de US$ 3,6 bilhões.

Na ação, ajuizada na última sexta-feira, o MPF pede que a Justiça Federal conceda liminar determinando a paralisação imediata de qualquer atividade de construção do mineroduto, suspendendo os efeitos da licença prévia da mina Sapo-Ferrugem, das licenças prévia e de instalação do mineroduto e das licenças prévia e de instalação do Porto de Açu. A Procuradoria da República em Minas também solicita no final da ação a nulidade dos procedimentos de licenciamento e das licenças concedidas até o momento, tarefa que alega ser de atribuição exclusiva do Ibama.

Para a procuradora Zani Cajueiro Tobias de Souza, a análise sobre os impactos gerados pelo empreendimento foi "indevidamente fragmentada", já que os elementos do projeto (a mina, o mineroduto e o porto) foram licenciados isoladamente pelo órgão federal e por órgãos estaduais. Para o MPF, no entanto, as estruturas não existem de forma independente e são "indissociáveis". "Apesar de ser um empreendimento único, a mina vem sendo objeto de licenciamento pelo Estado de Minas Gerais; o mineroduto foi licenciado pelo Ibama, como se tal duto pudesse funcionar sem o minério que provém da mina, e, finalmente, o Porto de Açu vem sendo licenciado pelo Estado do Rio, por meio do Inea (Instituto Estadual do Ambiente)", diz a ação.

No entendimento do MPF, o fracionamento ocorreu para "driblar os diversos entraves ambientais que certamente teriam de ser enfrentados num procedimento de licenciamento único". Segundo a Procuradoria, houve ainda açodamento na concessão das licenças do mineroduto, que será construído em plena Serra do Espinhaço, área de extrema relevância ambiental, declarada reserva da biosfera pela Unesco.

O mineroduto, licenciado pelo Ibama, conforme o MPF irá atravessar uma bacia hidrográfica com impactos significativos em cerca de 600 cursos d''água e no mar territorial brasileiro, já que a água que levará o minério será despejada no oceano através do Porto de Açu.

Em março do ano passado, um decreto do governo de Minas determinou como área de utilidade pública mais de mil hectares ao longo de 25 municípios do Estado que serão cortados pelo mineroduto. Para a construção do duto, foi necessária a negociação com 1.121 propriedades privadas. Pelo decreto, a Advocacia-Geral do Estado (AGE), em caso de urgência, poderia proceder a desapropriação dos terrenos.

Ritos legais

O Ibama informou hoje que considera que cumpriu todos os ritos legais, ouvindo os órgãos estaduais e os gestores das unidades de conservação. O instituto afirmou que está à disposição para esclarecimentos. A Anglo Ferrous Brasil disse que não foi notificada e não tem conhecimento dos termos da ação. O governo mineiro informou que também não foi citado e destacou que licença de instalação do complexo da mina em Conceição do Mato Dentro está suspensa desde o início do mês em razão de uma decisão da Justiça Estadual. A licença prévia foi concedida pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) em dezembro do ano passado. O Inea também informou que não havia sido comunicado oficialmente e por isso não iria comentar a ação.

Mineroduto vaza em rio e contaminação pode atingir 13 cidades de MG e ES

Duto que leva minério de ferro até o porto em Anchieta (ES) está furado
Do R7, com Rede Record em Minas

Um mineroduto da empresa Samarco vazou no rio São Sebastião, na altura da cidade de Espera Feliz, em Minas Gerais, no último domingo (25). Um furo no duto derramou minério de ferro na água, que está com uma coloração vermelha na região do município.

De acordo com a assessoria da mineradora, técnicos trabalham no local, nesta terça-feira (27), para resolver o problema. O rio São Sebastião abastece Espera Feliz. A prefeitura da cidade pediu aos moradores que economizem água e não utilizem o rio. Os produtores rurais da região foram instruídos a impedir os animais de beberam água dos rios São Sebastião, São João e Caparaó, que estão contaminados.

O mineroduto, que está com as atividades suspensas, transporta o minério de ferro das cidades mineiras de Ouro Preto e Mariana até o porto de Ubú, em Anchieta, no Espírito Santo. O volume do vazamento ainda não foi calculado, mas a Defesa Civil de Minas Gerais e Rio de Janeiro já estão em alerta.

A mancha de minério de ferro pode atingir 13 cidades em Minas Gerais e Espírito Santo. De acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Espera Feliz, vários peixes já foram encontrados mortos no rio São Sebastião.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

As tentações imperiais da França






A incapacidade do Estado Francês em desenvolver uma política eficiente que integre os imigrantes está fortemente baseada no desejo de promover a homogeneidade numa nação “única e indivisível”, que na verdade é impossível de se realizar, a não ser que Sarkozy assuma de vez o seu desejo de restaurar o velho e detestável Império francês. As identidades dentro das nações são instáveis e é muito difícil uma comunidade cultural coincidir com uma entidade política, tornando impossível buscar a realização daquilo que se chama “França autêntica”. O artigo é de Reginaldo Nasser.

Reginaldo Nasser (*)

Em meio à crise política (corrupção e financiamento de campanha eleitoral) que atinge o seu governo, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, considerou uma vitória importante no Parlamento a aprovação, por 335 votos a favor e um contra, a lei que proíbe o uso do niqab e da burca pelas mulheres muçulmanas. Por que uma questão privada que afeta poucas pessoas na França ressurge como um foco de atenção exagerada? Por que religião e etnia saíram da esfera pessoal e tornaram-se públicas? O fato é que se estabeleceu na França um forte vínculo entre identidade e migração.

As polêmicas sobre o tema da identidade nacional são, antes de tudo, o medo do "outro", do não europeu. Os islâmicos são percebidos cada vez mais por europeus "brancos" não apenas como uma ameaça aos seus empregos, mas, sobretudo, uma ameaça ao “estilo de vida europeu”.

Diferentemente da campanha presidencial em 2005, em que os temas principais eram o desemprego e questões sociais, em 2007, o líder da extrema direita Jean-Marie Le Pen, pode assistir com satisfação a questão da “identidade nacional” assumir o primeiro plano nos debates entre os candidatos. Alguns chegam a especular que as razões da catastrófica atuação da equipe francesa, dentro e fora de campo na África do Sul, refletem as profundas transformações da sociedade francesa. Pois, se em 1998 a França pode celebrar orgulhosa a imagem de Zidane (capitão francês de origem argelina) erguendo a taça de campeão do mundo, revelando a integração de uma nação multi-etnica; no início desse ano, a equipe francesa foi vaiada por uma grande parte da torcida, de filhos ou netos de argelinos, quando jogava uma partida de futebol contra Argélia em Paris.

Apesar desse debate sobre crise da identidade nacional francesa ser indicativo de uma conjunção de fatores que atinge toda a Europa (globalização, crise financeira, desemprego, a ascensão da Ásia, etc), e que tende a se intensificar à medida que se perde a confiança em sua capacidade de superar os desafios, no caso da França a frustração tem levado a uma nostalgia do passado.

Pela primeira vez na história, soldados de 13 países africanos que pertenceram ao antigo império colonial francês marcharam na avenida Champs-Elysees, à frente das tropas francesas nas comemorações do Dia da Bastilha em Paris. Várias organizações da sociedade civil francesa protestaram contra as violações dos direitos humanos por alguns dos líderes africanos que estavam presente e acusaram Sarkozy de nostalgia colonial. Na ocasião Sarkozy anunciou aumento das pensões dos veteranos africanos para o mesmo nível que as dos franceses para corrigir uma injustiça. (os combatentes da 2ª Guerra Mundial estão agora com idades que variam entre 84 e 95 anos).

O tema reapareceu recentemente em mais um polêmico filme sobre a guerra pela independência da Argélia, "Hors la Loi" (Fora da Lei), sob protestos de manifestantes, em Cannes, portando bandeiras da França, dizendo que o filme macula a memória do Exército francês. O diretor é o mesmo do excepcional filme "Dias de Glória" de 2006. Ambos os filmes abordam a história dos soldados das colônias Francesas na África que combateram pela França na 2ª Guerra Mundial. Os britânicos e franceses aliciaram milhares de soldados das colônias com a promessa da futura independência dos seus países. Quando teve início a guerra, em 1939, o governo francês recrutou cerca de 500.000 africanos e De Gaulle recrutou mais 100.000 em 1943 para libertar a França.

No momento da celebração da vitória dos aliados os soldados africanos foram escondidos em lugares que pareciam verdadeiros campos de refugiados, pois De Gaulle queria uma celebração “mais branca”. Aqueles que ousaram tremular a bandeira da Argélia entre as bandeiras dos EUA, Inglaterra e França foram massacrados.

Os franceses criaram um mito e querem que acreditemos que ele existe como se fosse uma realidade: o Estado-Nação. Uma maioria acreditava que esse era o melhor caminho para consolidar e legitimar o governo sobre uma população que se caracteriza por uma língua comum ou por seu caráter étnico. O problema é que as identidades dentro das nações são instáveis e é muito difícil uma comunidade cultural coincidir com uma entidade política, tornando impossível buscar a realização daquilo que se chama “França autêntica”. A incapacidade do Estado Francês em desenvolver uma política eficiente que integre os imigrantes está fortemente baseada no desejo de promover a homogeneidade numa nação “única e indivisível”, que na verdade é impossível de se realizar, a não ser que Sarkozy assuma de vez o seu desejo de restaurar o velho e detestável Império francês.

(*) Professor de Relações Internacionais da PUC-SP

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Senado argentino aprova casamento entre pessoas do mesmo sexo


Senado argentino aprova casamento entre pessoas do mesmo sexo

Marcia Carmo

De Buenos Aires para a BBC Brasil

Manifestação a favor do projeto em frente ao Congresso argentino na véspera da votação

Manifestantes apoiaram o projeto na véspera da votação no Senado

Após catorze horas de debates, os senadores argentinos ratificaram, na madrugada desta quinta-feira, o projeto de lei que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo no país.


A votação foi apertada, com 33 votos a favor e 27 contra. Com isso, a Argentina passa a ser o primeiro país da América Latina a autorizar o casamento gay.

O texto já tinha sido aprovado, no mês passado, pela Câmara dos Deputados. O projeto depende, agora, da sanção da presidente Cristina Kirchner para virar lei. Mas ela já sinalizou que deverá sancionar a medida.

A cidade de Buenos Aires já permitia a união civil entre pessoas do mesmo sexo, o que dava aos casais gays alguns direitos municipais iguais aos dos casais heterossexuais.

Com o casamento, porém, casais homossexuais que se casem em qualquer lugar do país terão todos os direitos iguais aos casais formados por homem e mulher, incluindo direito à adoção e a herança.

Na América Latina, o Uruguai e a cidade do México já tem leis permitindo a união civil entre homossexuais, mas a lei argentina é a primeira a permitir o casamento, seguindo outros países como Portugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Noruega, Suécia, Islândia, Canadá e África do Sul.

Comemoração

Durante a madrugada, a sanção presidencial era considerada fato consumado nas televisões argentinas, que anunciaram que o “Senado transformou casamento gay em lei”.

Apesar do frio de 3ºC, simpatizantes da iniciativa, com bandeiras e balões brancos, permaneceram em frente ao Congresso Nacional, ao ar livre, até o fim da votação.

Após o resultado, eles continuaram no local, dançando e cantando, comemorando a aprovação do texto.

O projeto de lei vinha gerando fortes disputas entre o governo e a Igreja Católica e motivou protestos contra e a favor da medida.

Na véspera da votação no Senado, cerca de 60 mil pessoas, segundo cálculos da polícia, realizaram uma manifestação em frente o Parlamento.

A manifestação tinha sido convocada pela Igreja Católica e por grupos evangélicos. Eles levaram balões laranja e faixas que diziam: “As crianças têm direito a uma mãe e um pai”.

Nos últimos dias, padres de diferentes pontos do país leram, durante as missas, um documento defendendo “o bem inalterável do casamento e da família”.

Apoio

Também na véspera da votação no Senado, mil pessoas se reuniram em outro ponto conhecido da cidade, em frente ao Obelisco, com vuvuzelas e panelaços, em apoio ao projeto.

Dias antes, simpatizantes já tinham realizado manifestação a favor do casamento em frente ao Congresso. Eles levavam cartazes que diziam: “O mesmo amor, os mesmos direitos”.

A postura da Igreja Católica levou a presidente a declarar que “o discurso da igreja recorda os tempos da inquisição”.

O líder do governo no Senado, senador Miguel Pichetto, disse, durante os debates no Senado: “Aqui não haverá mais casamentos do mesmo sexo só porque aprovamos esta lei. O objetivo desta norma é eliminar a discriminação”.

A senadora Maria Eugenia Estenssoro, da opositora Coalición Cívica, argumentou que o projeto é “necessário” para os casais do mesmo sexo. “Esta lei permitirá que os homossexuais possam assumir publicamente suas relações”, disse ela.

Outro líder opositor, o ex-presidente e senador Adolfo Rodríguez Saá, de uma ala dissidente do peronismo, afirmou ser contra o casamento gay e a favor da união civil entre as pessoas do mesmo sexo.

“Aqui é tudo ou nada. Com a união civil poderíamos resolver esta questão e encontrar um caminho de unidade para a sociedade argentina. Mas existem setores fundamentalistas que querem irritar e dividir a sociedade argentina”, afirmou.

O senador socialista Rubén Giustiniani, que votou a favor da lei, disse que o perfil da sociedade argentina mudou e por isso era o momento da aprovação do texto.

Segundo ele, dados oficiais indicam que 59% das famílias argentinas já não atendem ao perfil tradicional de pai, mãe e filhos. Mas de mães solteiras, casais separados e casais homossexuais.

Para o senador opositor Gerardo Morales, da UCR, apesar das polêmicas e disputas, “ganhou o debate cultural” no país, diante da participação da sociedade na discussão.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

PM reprime greve dos funcionários do Judiciário de SP

Os funcionários em greve há 71 dias tinham realizado uma assembléia na praça João Mendes, região central de São Paulo, decidindo manter a paralisação até o dia 14 de julho. Para justificar o uso da força, os policiais alegaram que os grevistas estavam tentando impedir a passagem de pessoas para dentro do Fórum João Mendes. A Associação dos Oficiais de Justiça de São Paulo (Aojesp) protestou contra o uso de balas de borracha e spray de pimenta. A presidente da associação, Yvone Moreira, foi levada para o hospital com ferimentos no seio e nos olhos.

Redação

A Polícia Militar do Estado de São Paulo reprimiu hoje, com spray de pimenta e balas de borracha, uma manifestação dos funcionários do Judiciário paulista, realizada na praça João Mendes, região central de São Paulo. Os funcionários em greve tinham realizado uma assembléia na praça decidindo manter a paralisação até o dia 14 de julho. Para justificar o uso da força, os policiais alegaram que os grevistas estavam tentando impedir a passagem de pessoas para dentro do Fórum João Mendes.

A Associação dos Oficiais de Justiça de São Paulo (Aojesp) protestou contra o uso de balas de borracha e spray de pimenta. Segundo a assessoria de imprensa da entidade, a presidente da associação, Yvone Moreira, foi levada para um hospital após ser atingida no seio por um artefato e nos olhos por estilhaços de vidros.

Os funcionários do Judiciário estão em greve há 71 dias e pedem uma reposição salarial de 20,16%, além da suspensão da Resolução 520, que permite que os dias parados sejam descontados do salário dos grevistas.

Eles reclamam da disparidade salarial em relação aos servidores da Justiça Federal. Na Justiça estadual de SP, assinala a Aojesp, um auxiliar judiciário, quase no final de carreira, recebe R$ 2.495,84, enquanto o mesmo auxiliar judiciário na Justiça federal ganha R$ 3.793,69. Na Justiça estadual, diz ainda a entidade, um Oficial de Justiça, quase em fim de carreira, recebe R$ 4.149,18, enquanto que na Justiça federal, ele recebe R$ 10.883,07 pelo cargo equivalente.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Tráfico de mulheres na Europa movimenta 2,5 bilhões de euros






Segundo a ONU, há cerca de 140 mil mulheres vítimas do tráfico humano relacionado ao mercado da exploração sexual na Europa. Estima-se que, por ano, são feitas 70 mil novas vítimas do crime organizado para exploração sexual. A organização estima ainda que estas 140 mil mulheres traficadas, em condições de servidão, façam, juntas, cerca de 50 milhões de programas sexuais por ano, a um valor médio de 50 euros cada. No total, isso representa um lucro anual que atinge 2,5 bilhões euros, ou seja, o equivalente a R$ 5,5 bilhões.

Tatiana Félix (*) - Adital

O relatório Tráfico de Pessoas para a Europa para fins de Exploração Sexual, divulgado dia 29 de junho, pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), revelou que só na Europa existem cerca de 140 mil mulheres vítimas do tráfico humano que servem àqueles que procuram o mercado da exploração sexual. Por ano também são feitas 70 mil novas vítimas do crime organizado para exploração sexual.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que estas 140 mil mulheres traficadas, em condições de servidão, façam, juntas, cerca de 50 milhões de programas sexuais por ano, a um valor médio de 50 euros cada. No total, isso representa um lucro anual que atinge 2,5 bilhões euros, ou seja, o equivalente a R$ 5,5 bilhões.

Os dados se referem apenas à Europa Ocidental e mostram que a maior parte das pessoas traficadas vem de regiões vizinhas, como os Bálcãs (32%) e países da antiga União Soviética (19%). A América do Sul aparece em terceiro lugar de origem das vítimas, com representatividade de 13%. Segundo o relatório, é cada vez maior o número de brasileiras traficadas. Em seguida, aparece a Europa Central com 7%, África, com 5% e Leste Asiático com 3%.

De modo geral, o estudo aponta a Espanha como o principal país de destino das vítimas, seguida por Portugal, Holanda e Alemanha. Entretanto, o relatório detalhou que as brasileiras e paraguaias, entre as vítimas sul-americanas, são destinadas, principalmente, para Espanha, Itália, Portugal, França, Holanda, Alemanha, Áustria e Suíça. Os dados revelam uma mudança nos últimos anos, pelo menos na Espanha, já que antes de 2003, eram as colombianas, a maioria das vítimas no país.

A estimativa de mulheres traficadas na Europa foi levantada pela ONU com base no número de 7.300 vítimas detectadas na Europa Ocidental em 2006. De acordo com a Organização, 1 em cada 20 vítimas seria detectada, chegando, então, ao total de 140 mil mulheres. O relatório indica que as novas 70 mil vítimas anuais, expressam a rotatividade e o movimento do tráfico de pessoas, e explica que elas substituem aquelas que conseguiram se livrar do crime organizado, abandonando sua antiga condição ou, ainda tenham se transformado em novas aliciadoras.

Tráfico em Portugal
Já o Relatório Anual de 2009 do Observatório do Tráfico de Seres Humanos, do Ministério da Administração Interior de Portugal, revelou que 40% das mulheres vítimas do tráfico humano em Portugal são brasileiras. Baseado em 85 casos identificados em 2009, o estudo apontou que a maioria dessas mulheres originárias dos estados de Goiás, Minas Gerais e de estados do Nordeste.

Para o diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal, Manuel Jarmela Paulus, o alto índice de brasileiras entre as vítimas está relacionado apenas ao número expressivo da comunidade brasileira em Portugal - com 100 mil pessoas, ou seja, mais de 20% do total de imigrantes no país. Segundo ele, o Serviço de Estrangeiros está trabalhando em parceria com autoridades brasileiras para combater o tráfico de seres humanos nos dois países.

O relatório de Segurança Interna português também especificou algumas características sobre os traficantes e aliciadores. Geralmente são de nacionalidade portuguesa, romena, brasileira, ucraniana e eslovaca, e para conquistar a vítima, oferecem propostas de trabalho com falsos benefícios.

Jornalista da Adital

Livre comércio agrícola é máquina de fabricação de pobreza”




Para o pesquisador francês Marcel Mazoyer, do Instituto Nacional Agronômico Paris-Grignon, em alguns países a política de liberalização do mercado agrícola tem levado até 80% da população à pobreza. As regiões mais ricas, nas quais os produtores conseguem se apropriar de técnicas de aumento de produtividade, se tornam mais competitivas e aos poucos eliminam os pequenos. “Trata-se de desenvolvimento desigual, que termina no empobrecimento e exclusão dos camponeses”, disse. “Em muitos lugares, como no Brasil, o capitalismo agrário está impedindo a agricultura familiar e camponesa”.

Bia Barbosa

Está no Brasil o pesquisador francês Marcel Mazoyer, professor emérito de agricultura comparada e de desenvolvimento agrícola no Instituto Nacional Agronômico Paris-Grignon. Mazoyer veio ao país participar de uma série de debates de lançamento do livro História das Agriculturas no Mundo – do Neolítico à Crise Contemporânea, escrito em parceria com Laurence Roudart, mestre em economia política agrícola e alimentar pelo mesmo instituto francês.

Durante o lançamento em São Paulo – realizado na última semana pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/MDA), Editora Unesp e Cátedra UNESCO de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial –, Marcel Mazoyer alertou que a falta de alimentos para grande parte da população é fruto de um processo histórico de desenvolvimento agrícola desigual e que não pode ser resolvida com o simples aumento da produção, mas requer uma modificação estrutural no campo, que passa pela reforma agrária (leia mais em “Segurança alimentar é o grande desafio do século XXI”)

Em São Paulo, o pesquisador concedeu uma entrevista exclusiva à Carta Maior, em que explica as desigualdades existentes no mundo contemporâneo a partir da política de liberalização do mercado agrícola e analisa como a globalização deste mercado tem aumentado ainda mais o desemprego e a pobreza no planeta.

Autor de quase 10 livros, Mazoyer é membro do Comitê de avaliação do desenvolvimento agrícola e rural do Ministério da Agricultura, integrando também o Comitê de Ética de Dragris, e o Conselho de Perspectiva Européia e Internacional para a Agricultura e Alimentação. O pesquisador exerce ainda função de vice-presidente da Associação Francesa para a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Carta Maior – Seu livro resgata a epopéia da agricultura durante milênios a partir da perspectiva dos camponeses produtores e vendedores de produtos agrícolas. Por que esta escolha?

Marcel Mazoyer – Porque sou filho de camponeses. Estudei economia agrícola na escola, mas venho de uma região de camponeses pobres, no centro da França, numa parte da Borgonha, onde pequenos produtores foram pouco a pouco eliminados pela concorrência, ao longo de um processo de empobrecimento. Neste processo, as regiões mais ricas, nas quais os produtores conseguem se apropriar de técnicas de aumento de produtividade, se tornam mais competitivas e aos poucos eliminam os pequenos. Trata-se de desenvolvimento desigual, que termina no empobrecimento e exclusão dos camponeses. Eu cresci dentro desta realidade. Na minha cidade havia 20 fazendas. Hoje não há mesmo uma.

CM – A concentração não seria uma consequência natural do capitalismo?

MM – Não. Mesmo fora do capitalismo, uma economia mercantil concorrencial resulta nisso. O objetivo perseguido é encontrar meios de produção mais eficazes, que vão aumentar a concorrência, fazer baixar o preço da produção e dominar o mercado, excluindo aqueles que não são competitivos. Isso aconteceu com a França e com os países de capitalismo desenvolvido da Europa Ocidental. Mas nesses países a agricultura não era capitalista; eram países capitalistas baseados numa agricultura familiar camponesa. No final do século XVIII, os dinamarqueses fazem uma reforma agrária, realizada pela nobreza, e este modelo é seguido posteriormente pela Europa Ocidental, com uma única exceção: os ingleses. Lá os camponeses foram expropriados, para fazer baixar o preço da força de trabalho na indústria, enviar trabalhadores para colonizar os Estados Unidos e a Austrália e também para ter, na agricultura da Inglaterra do século XVII e XVIII, a mão de obra mais barata possível. Ou seja, o modelo de desenvolvimento da agricultura inglesa era latifundiário. O mesmo aconteceu aqui no Brasil, desde a abolição da escravatura. A melhor maneira de acumular o capital e de ter a mais barata força de trabalho disponível é privar o camponês de seu acesso à terra.

CM – Mas o fato de não ser uma política agrícola capitalista não impediu a concentração de renda.

MM – Exato. E esta concentração se deu de forma desigual. Sozinho – não tem nada a ver com a idéia de trabalhadores assalariados do capitalismo –, os produtores franceses passaram de 50 para 100 hectares, de um trator de 100 cavalos para um de 200 cavalos, e assim por diante. Estudando, vi que poderíamos agir diferente. Poderíamos ter uma política que não permitisse que o desenvolvimento desigual se desse de forma muito rápida.

CM – Como a França fez a isso?

MM – Em 1962, o ministro francês da Agricultura, em diálogo com lideranças dos jovens camponeses, que não estavam satisfeitos com o que herdariam de seus pais – propriedades não competitivas –, toma uma decisão política muito importante: implementa uma lei anti-acumulação, que proibia as propriedades de crescerem a um tamanho maior daquele que demandasse mais de dois trabalhadores. Ou seja, interditamos a agricultura capitalista assalariada. Proibimos a constituição de propriedades por capitais que não os das famílias de agricultores. Deixamos de fora o capital estrangeiro na compra de terras. Havia, portanto, decisões de governos – que não eram necessariamente de esquerda; na França o presidente era De Gaulle – que impediam o desenvolvimento desigual do capitalismo na agricultura.

CM - Havia um objetivo de proteger a soberania alimentar naquele momento?

MM - A idéia de praticar uma política de soberania alimentar, ou seja, uma política agrícola que respondesse aos interesses dos franceses, era algo em que ninguém pensava naquela época. Esta preocupação existe hoje porque há uma regulamentação internacional que impede alguns países de fazer isso. Mas em 1945, os países desenvolvidos da Europa Ocidental e o Japão, após a guerra, não tinham produção suficiente. Quem tinha excedente de produção eram Estados Unidos, Canadá, Austrália e África do Sul, enfim, países anglo-saxões que não haviam sido quebrados pela guerra. Havia fome quase em todos os países da Europa, talvez até mais do que na África. Então éramos importadores de alimentos, e os Estados Unidos emprestava dinheiro a todos os países que estavam em necessidade alimentar para comprar seus próprios excedentes. O preço dos alimentos era muito alto, e os Estados Unidos lucraram com esses investimentos. Mas a preocupação não era proteger a soberania alimentar, e sim a concentração da propriedade.

CM – Mas essa política não foi reproduzida em todos os países.

MM – Não. As agriculturas americana e européia aumentaram sua capacidade de produção, baixaram o preço de seus produtos e, pouco a pouco, eliminaram os pequenos agricultores em países que não tinham uma política de proteção. Quando os produtos chegavam na África, onde a produtividade era 10, 20, 50 vezes menor, esses produtos provocavam paralisação do desenvolvimento e queda na renda. Ou seja, as exportações daqueles que já são equipados e muito competitivos afetam todos os camponeses dos países que não se protegem. E a África estava competindo com os preços mais competitivos do mundo.

CM – Como isso começou?

MM – Nos anos 70, o Plano de Ajuste Estrutural impôs aos países pobres e subdesenvolvidos do Sul a liberalização de seu mercado, o que acabou com as poucas indústrias que eles tinham em competição com as indústrias dos países mais desenvolvidos. Nos anos 80, começamos a impor também o livre comércio agrícola. É preciso diferenciar a liberalização agrícola e da financeira-industrial. Nos anos 70 houve a liberalização dos capitais, sobretudo do Japão, que envia os capitais acumulados à sua periferia no sudeste asiático. Depois, pouco a pouco, todos os países capitalistas foram obrigados a fazer o mesmo. Então chegamos à globalização liberal, à exceção da agricultura. Até aí, o GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) não havia tocado na agricultura. O princípio da soberania alimentar excluía que falássemos de liberalização agrícola. Cada país tinha o direito de fixar sua política. Os países importadores – como nós, de 1945 a 1970 – faziam os acordos com os americanos, mas se protegiam. Hoje se um país agrícola pobre reivindica o direito de se proteger os países desenvolvidos lembram a Rodada Uruguai [que levou à liberalização do comércio agrícola]. Mas antes proteger a agricultura de um país para atender às necessidades de seu povo era algo inquestionável. Não conheci nenhum economista, nem na FAO, no Banco Mundial ou no FMI, na OCDE [Organização Européia de Cooperação e Desenvolvimento] que dissesse "é necessário fazer o livre comércio agrícola." Se alguém falasse isso seria considerado louco.

A política de soberania alimentar fazia parte de um conjunto de políticas globais kenesyanas, incluída a Política do Pleno Emprego. A ONU havia promovido a reforma agrária em todos os lugares para evitar a miséria campesina. O capitalismo havia compreendido que seria necessário eliminar a pobreza para que o sistema funcionasse bem. Não por bondade, mas por necessidade. Não era uma coisa de política de esquerda ou direita. Todos os governos implementaram esta política. Por isso, na Europa não havia mais pobres, não havia desemprego, mendicância, quase não havia prostituição, todo mundo tinha educação até os 16 anos e acesso à saúde.

Essa política durou 30 anos, mas em 1975 começam os desequilíbrios, porque nos esquecemos de estender os benefícios ao restante do mundo. E, por uma questão de correlação de forças, em função de uma onda neoliberal que crescia, decide-se suprimir esta política nos países desenvolvidos e de utilizar o capital para explorar a mão de obra de maneira selvagem nos quatro cantos do mundo – e assim contribuir para baixar os salários e gerar desemprego nos outros países.

Este Plano de Ajuste Estrutural, de 1980 a 1990, fez todos países reduzirem gastos, o que foi extremamente negativo para a população. A pobreza aumentou sensivelmente. Mas eles perceberam que, apesar disso, nada provocou a revolução. Ou seja, era politicamente suportável. E foi aí que resolveram incluir a agricultura no programa do GATT e liberar o comércio agrícola.

CM – Que tipo de conseqüências essa liberalização gerou?

MM – Isso foi decisivo para os países agroexportadores desenvolvidos: Estados Unidos, Canadá, Austrália. Em 1974, quando houve a explosão dos preços agrícolas, pessoas compravam um milhão de hequitares no Mato Grosso, na Argentina. É lá que os capitais se aproveitam da revolução agrícola e da revolução verde e começa a primeira onda de grande investimento capitalista na agricultura. Começa a exportação brasileira, argentina: soja, trigo, milho. As exportações americanas e canadense estabilizam e, em alguns momentos, diminuem. O que fazem então os Estados Unidos diante de países que podem produzir na mesma quantidade, ou mais, por um custo menor? Eles compreendem que vão perder parte do seu mercado de exportação – e o controle do mercado agrícola internacional não é apenas uma posição de poder econômico, mas também de poder político. São obrigados então a agir de duas formas em paralelo: proteger seus investimentos, seus negócios agrícolas e alimentares nos quatro cantos do mundo e também dentro do país. Fixam então um preço internacional e garantem que seus produtores não terão prejuízo vendendo os produtos a este valor para fora e também dentro do país. Isso faz com que seus produtos não cheguem ao mercado externo mais caros que os produtos brasileiros ou argentinos. Na prática, fazem dumping. Protegem seus agricultores vendendo de maneira mascarada produtos subsidiados.

CM – A política protecionista francesa, no entanto, é mais criticada pelos grandes produtores brasileiros.

MM – O sistema americano é muito pior que o protecionismo europeu. Nós não exportamos muito. O que acontece nos EUA é dumping. É isso que permite ao agronegócio brasileiro dizer aos africanos que "a culpa é daqueles que subsidiam". A causa do subsídio é o dumping econômico e social, ecológico do grande capital, que adquire as melhores terras do mundo. Fazendo seu sistema de subvenção, os americanos são cúmplices do livre comércio do agronegócio instalado no Brasil, na Argentina. Esta é a verdade. São defensores do livre comércio pra todo mundo, menos para eles.

Já a crítica do agronegócio brasileiro é natural. Quando você é proprietário de capitais ou parte do agronegócio brasileiro e está num território com a maior quantidade e a melhor qualidade de terras disponíveis, com os salários mais baixos do mundo, cada vez que alguém lá fora diz que não quer importar a produção brasileira, por qualquer razão que seja, vira seu inimigo. Mas isso não é novo. Os ingleses fizeram uma guerra com a China para poder exportar seus produtos industriais; a França fez guerras na África e na Indochina. Ou seja, a guerra econômica não começa com os latifundiários brasileiros. É uma história antiga. Aqueles que são mais fortes e mais competitivos estão sempre a favor do livre comércio.

CM – No seu livro o senhor afirma que isso gera pobreza. Como?

MM – Na agricultura o livre comércio traz problemas muito sérios. Porque não é só uma parte do que você consome que desaparece diante das mercadorias que chegam de fora mais baratas, mas, nos países mais pobres, cerca de 80% da população – os camponeses – é destruída com as importações agrícolas. Você transforma 80% da população em desempregados. É isso o que acontece com o livre comércio na África, por exemplo, onde a agricultura ainda é manual. E é manual porque não houve industrialização, já que o poder de compra da maioria da população foi sendo destruído. Então você fabrica favelados e imigrantes.

CM – Acabar com o livre comércio agrícola seria a solução?

MM – Veja, hoje há 3 bilhões de pessoas que vivem com menos de 3 dólares por dia; 2 bilhões que não ingerem a quantidade necessária de calorias por dia – e que desenvolvem uma série de doenças em função disso – e 9 milhões de pessoas que morrem de fome por ano, todos os anos. Lançaram então os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que tinham como meta reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção da população com renda inferior a 1 dólar por dia por dia e reduzir pela metade, no mesmo período, a proporção da população que passava fome.

Os neoliberais, depois do Plano de Ajuste Estrutural, sabiam da pobreza que haviam produzido. Estavam conscientes que o livre comércio podia produzir estragos. Então resolvem mobilizar o possível para limitar os problemas. Pensaram: vamos aumentar o orçamento para a agricultura nos países, aumentar a ajuda alimentar via programas da ONU, aumentar os investimentos públicos em desenvolvimento... Todo um conjunto de coisas que, se tivessem sido feitas, teriam permitido barrar o agravamento da pobreza. O problema é que nenhuma dessas medidas atacava a raiz do problema: o livro comércio agrícola, que destruía centenas de milhares de camponeses. A idéia era atenuar os efeitos da liberalização agrícola, mas ninguém disse isso explicitamente. Muito menos autorizaram os países a se protegerem. E proteger os camponeses da África, impedir que eles empobreçam e tenham fome é central.

CM – Mas as conseqüências não se restringem à África.

MM – É preciso dizer: não foi na África que isso começou. No Brasil vocês foram os primeiros a produzir a fome entre os camponeses, com os latifundiários, antes mesmo de exportar para o mundo todo. E os latifundiários continuam fazendo isso. Tomam as melhores terras, que são inacessíveis aos camponeses – e que às vezes, de tão pobres, as vendem – e também uma parte do mercado interno e externo. Fazem isso porque detêm capital. Graças ao que aconteceu entre 1945 e 1970, os camponeses do Norte e do Sul fizeram de tudo para serem incluídos na agricultura modernizada, mecanizada, competitiva. Mas o que os impede de conseguir isso? É que eles são muito pequenos. Em muitos lugares, como no Brasil, o capitalismo agrário está impedindo a agricultura familiar e camponesa, como faziam na época do velho capitalismo arcaico, que impedia os camponeses de ter acesso à terra para manter o monopólio. Agora que eles são capazes de comprar os equipamentos da revolução agrária, os grandes proprietários compram as melhores terras, as melhores máquinas e utilizam as técnicas mais eficazes. Muitas vezes utilizam o conhecimento produzido por milhares de camponeses em todo o mundo. E fazem isso para controlar a maior parte do mercado interno do Brasil e também o mercado internacional.

CM – No entanto, vigora na opinião pública brasileira a idéia de que o agronegócio, via exportações, é o responsável pelo superávit em nossa balança comercial e por parte significativa do sucesso da nossa economia. Por isso, vale tudo para ampliar sua produção, inclusive expandir a fronteira agrícola em regiões da Amazônia. Como o senhor vê essa política?

MM – Antes de mais nada, é preciso confirmar essa história de que a balança comercial brasileira é superavitária graças ao agronegócio. É preciso que a opinião pública saiba que o Brasil exporta o que o povo brasileiro não come e que deveria comer. Ainda há subnutridos no Brasil. É um escândalo. O agronegócio poderia exportar, ou o governo poderia deixar o agronegócio exportar, sob a condição de que não houvesse mais fome no Brasil. Todo mundo sabe, inclusive os ruralistas, que a única solução para acabar com o desemprego e garantir alimentação para todos é que aqueles que pleiteiam terra – ou seja, 4 ou 5 milhões de pessoas – tenham acesso muito rápido à terra. Do contrário, você pode fazer crescer todo o agronegócio que quiser e isso não mudará nada. Além disso, é preciso questionar: a balança comercial está a benefício de quem? Sem dúvida não é das pessoas pobres. É de uma classe média alta, para comprar coisas que são muito menos indispensáveis do que comida para os pobres.

Sem falar que, nos últimos 10 anos, houve um avanço sobre terras que antes eram dos camponeses – e isso inclui terras de minorias indígenas em reservas protegidas. Isso fabrica pobres e subnutridos. Expropriar a terra de camponeses é algo que deveria ser absolutamente proibido. É preciso um plano para reverter essa situação. Barrar o agronegócio é politicamente impossível e, economicamente, uma loucura. Sozinho não é possível reverter o poder do capitalismo agrário. Lula compreendeu bem isso. A solução então é impedir que ele adquira terras dos camponeses e indígenas. Além disso, há terra suficiente no Brasil para que sejam assentadas mais do que 5 mil pessoas por ano. Isso não é nada, não é reforma agrária. A soberania alimentar é um assunto político que deve suprimir a pobreza e permitir à máquina econômica alimentar o povo brasileiro. Mas hoje o agronegócio brasileiro é a máquina que opera contra a soberania alimentar, no Brasil e no resto do mundo.


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01/07/2010

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29/06/2010

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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Segurança alimentar é o grande desafio do século XXI

Em passagem pelo Brasil, o engenheiro agrônomo francês Marcel Mazoyer alertou que a falta de alimentos para grande parte da população é fruto de um processo histórico de desenvolvimento agrícola desigual e não pode ser resolvida com o simples aumento da produção, mas requer uma modificação estrutural no campo, que passa pela reforma agrária. Para ele, a morte pela fome é hoje um verdadeiro genocídio de autoria coletiva e a parcela da população global que tem menos acesso aos alimentos é justamente a dos camponeses.

Débora Prado

A crise alimentar é fruto do desenvolvimento desigual da produção agrícola nas últimas décadas e se agravou de tal forma que, atualmente, a morte de milhares pela fome se tornou um verdadeiro genocídio de autoria coletiva. A avaliação é do engenheiro agrônomo Marcel Mazoyer, que considera este um dos principais problemas do século XXI e afirma que, sem sua superação, o capitalismo seguirá em crise. Professor emérito do Instituto Nacional Agronômico Paris-Grignon, o intelectual está no Brasil para uma série de debates sobre agricultura e segurança alimentar e lançou em São Paulo, no dia 30 de junho, o livro História das Agriculturas no Mundo: do Neolítico à Crise Contemporânea, uma co-autoria com Laurence Roudart.

Para ele, a enorme distorção existente no sistema agrícola e alimentar mundial está na base das desigualdades de renda e de desenvolvimento entre os países. Este quadro agrícola, por sua vez, é uma herança histórica e é uma ilusão pensar que somente o excedente produtivo poderá resolver o problema de falta de alimentos para grande parte da população mundial. “Isso não é uma fatalidade do aumento demográfico ou natural, tem raízes econômicas e, portanto, também de vontade política”, analisa.

Em seu estudo, ele constatou que, na segunda metade do século XX, a população mundial cresceu de tal forma que foi multiplicada por 2,4, enquanto a produção agrícola foi multiplicada por 2,6. Esse aumento produtivo, entretanto, se deu em um sistema agrícola e alimentar mundial composto por subsistemas regionais concorrentes e muito desiguais na eficiência. Com isso, atualmente, um número reduzido de propriedades acumula mais capitais, concentra os cultivos e as criações mais produtivas, conquistando novas partes do mercado. Por outro lado, regiões muito extensas e a maioria dos camponeses do mundo mergulham na exclusão.

Segundo o professor, as estatísticas são representativas. Existem hoje aproximadamente 6,8 bilhões pessoas no mundo. De acordo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), com base em dados coletados entre 2004 e 2006, cerca de três bilhões de pessoas são privadas de alimentos no mundo, dois bilhões sofrem de má nutrição, 872 milhões passam fome na maior parte do ano e nove milhões efetivamente morrem por inanição a cada ano. “A grande maioria destes pobres, mal nutridos, subalimentados e que morrem são camponeses e agricultores familiares. Desde que começaram as campanhas de combate à fome, o número de famintos só aumentou e o único fator de redução neste número de famintos é a alta da mortalidade por fome. Isto é uma tragédia”, alerta o professor.

Ele explica que no cerne dessa desigualdade está a diferença de produtividade entre os que têm acesso a tratores e instrumentos e os não têm. As pesquisas da FAO indicam que a população agrícola total é de 2,7 bilhões de pessoas, sendo que a população agrícola ativa é de 1,34 bilhão. Por outro lado, existem cerca de 28 milhões de tratores e 250 milhões de animais de tração empregados na produção, o que representa que cerca de um bilhão de camponeses e agricultores familiares trabalham unicamente com equipamentos manuais. Além disso, cerca de 500 milhões de pequenos produtores não utilizam sementes comerciais, nem adubos ou agrotóxicos e uma parcela de 200 a 300 milhões dispõem apenas de uma fração de um hectare de terra, indicando o déficit de reforma agrária.

Neste cenário, as estimativas indicam que a cada ano cerca de 30 a 40 milhões de pobres são condenados ao êxodo e vão para as cidades, onde reforçam um quadro de desemprego estrutural e baixos salários. “A pobreza e a fome estão massivamente concentradas no campo, lá elas nascem e se reproduzem, sendo transferidas para favelas e campos de refugiados pelo êxodo”, concluí o professor. Com isso, uma das principais consequências da revolução agrícola na produtividade é o aumento desta em um processo complexo que se traduz em baixos salários, desigualdade e uma tendência internacional da queda nos preços dos cereais.

Impactos diferentes e perversos
A tendência de redução no patamar de preços traz consequências diferentes para os atores do cenário agrícola. Em termos gerais, gera um freio nos investimentos, redução da produção e estoques e, no bojo da especulação financeira, explosões periódicas e passageiras dos preços. “O capital financeiro se apropria das terras disponíveis, impõe baixos salários e trava a agricultura familiar em todo o mundo”, alerta o professor.

Mazayer explica que este cenário mais amplo causa um quadro de abrandamento nos investimentos, associado ao êxodo, com uma população agrícola inferior a 5% e o desemprego superior a 10% nos países desenvolvidos. Nos países agrícolas pobres, por sua vez, promove um bloqueio no desenvolvimento da agricultura camponesa e familiar, o empobrecimento geral, a subalimentação, que conduzem centenas de milhões de camponeses à ruína, ao êxodo, ao desemprego, à extrema pobreza e aos movimentos migratórios. O impacto desta combinação na economia mundial é a insuficiência do poder aquisitivo de milhares, combinada ao excesso de poupança e de capital financeiro, especulações, bolhas e crises financeiras.

“Atualmente, o mercado equilibra a oferta e demanda daqueles que podem pagar e não a oferta e a necessidade. Esta lógica pode servir quando se fala de automóveis, por exemplo, mas não quando a questão é a falta de alimentos”, provoca. Para alterar esta lógica, é necessário, segundo Mazoyer, haver a adoção de políticas de pleno emprego, o Estado deve promover reformas, redistribuição de salários, a ampliação do poder aquisitivo no campo para frear o êxodo e combater o desemprego estrutural e a pressão sobre os salários. “É preciso que haja uma reforma agrária promovida de forma civilizada e endossada pela comunidade internacional e o G-20 poderia impulsionar isto”, complementa o intelectual.

Obra resgata processo histórico
No debate que marcou o lançamento de sua obra, Mozayer optou por debater o cenário atual e as perspectivas dada a situação agrícola mundial atual e a crise alimentar. O livro, entretanto, resgata a história da agricultura no mundo do neolítico à crise contemporânea e é divido em três partes: uma sobre a revolução agrícola do neolítico, suas diversidades e diferenciações; outra abordando a evolução histórica dos diferentes sistemas agrários; e, por fim, a análise da revolução agrícola contemporânea, suas causas, consequências e perspectivas.

O lançamento foi promovido pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/MDA), a Editora Unesp e a Cátedra UNESCO de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial. Além de MAzoyer, a mesa contou com a participação de Bernardo Mançano Fernandes, coordenador da Cátedra UNESCO de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial, Maria Judith Gomes, delegada federal de Desenvolvimento Agrário (DFDA/MDA) em São Paulo, e Joaquim Soriano, coordenador geral do NEAD/MDA

Em defesa da legislação ambiental

O relatório final da Comissão Especial do Código Florestal, apresentado pelo deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB/SP), se aprovado, representará um verdadeiro retrocesso na proteção do meio ambiente em nome dos interesses dos ruralistas.

Ivan Valente

Está em curso no país uma tentativa perigosa que pode reverter mais de cinco décadas de legislação ambiental no Brasil. O relatório final da Comissão Especial do Código Florestal, apresentado pelo deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB/SP), se aprovado, representará um verdadeiro retrocesso na proteção do meio ambiente em nome dos interesses dos ruralistas.

De acordo com o texto, que será votado nos próximos dias, as propriedades rurais de até quatro módulos fiscais (na Amazônia isso equivale a 400 hectares) ficam desobrigadas de manter a área de Reserva Legal, ou seja, a porção de terra com cobertura original para conservação. Segundo o INCRA, 90% dos 5,2 milhões de imóveis rurais do Brasil estão nesta condição. Tal desobrigação também abre uma brecha para acabar de vez com este tipo de proteção, afinal qualquer fazendeiro com mais de 400 hectares de terra na Amazônia poderá fracionar a propriedade para fugir da lei.

O relatório também dá autonomia para os Estados definirem os porcentuais de área de Reserva Legal nas propriedades maiores e flexibiliza a aplicação das leis ambientais dentro da sua região administrativa, ignorando a necessidade de uma legislação ambiental federal. Caberá a eles definir também quais áreas desmatadas devem ser recuperadas.

As Áreas de Proteção Permanente, como margens de nascentes, córregos, rios, lagos, topo de morros, encostas e manguezais poderão ser devastadas. A faixa mínima de mata ciliar, por exemplo, em vez de 30m passa a ser de 15m, podendo chegar a 7,5m, à mercê de interesses locais para redimensionamentos das áreas.

Já o Pantanal perderá sua proteção ambiental. A região somente será preservada se possuir proteção estabelecida em lei estadual. Sem isso, o produtor pode realizar qualquer tipo de intervenção econômica na região, onde já se expandem plantações de soja.

Na avaliação técnica e jurídica do Ministério Público do Estado de São Paulo, as conseqüências de alterações desta ordem no Código Florestal, que transfiram a Estados e/ou Municípios a prerrogativa de estabelecer os limites mínimos de proteção ambiental, instituiriam uma disputa institucional de caráter político, técnico e até mesmo judicial entre as unidades da federação, que desarticularia a segurança jurídica da legislação ambiental atual. O nível de desarticulação e ineficácia de funções ambientais que um conjunto difuso de regras entre União, Estados e Municípios poderia criar inviabilizaria a própria existência de uma legislação ambiental no Brasil.

O texto inicial do relatório revoga ainda um artigo do Código que trata as florestas como bens públicos. A partir de agora, caso o governo não transfira recursos aos proprietários particulares, estes podem dar a destinação que bem entenderem às florestas, sem penalidades.

Tudo isso comprova a farsa do desmatamento zero nas quais os ruralistas pretendem fazer crer a população. Fica explícita a autorização para novas derrubadas de árvores, nos mais diferentes biomas.

Por fim, há a possibilidade de anistia completa aos desmatadores que cometeram infrações antes de 22 de julho de 2008. Ou seja, o relatório premia aqueles que historicamente desrespeitaram o meio ambiente, além de insinuar que desenvolvimento só se faz com destruição da natureza.

Na verdade, o texto final da Comissão Especial parte de premissas equivocadas para defender uma brutal mudança na legislação ambiental e colocar o Brasil no rumo do atraso e da devastação.

A primeira delas é a existência de uma ameaça internacional que, via financiamento de ONGs ambientalistas, pretende impedir o Brasil de ampliar suas fronteiras agrícolas e, assim, manter sua competitividade no mercado exterior. A segunda é a necessidade de ampliar a produção de alimentos para o mercado interno, o que justificaria a ocupação de todas as áreas agricultáveis do território nacional - inclusive as de Reserva Legal e de Proteção Permanente.

Inúmeras pesquisas demonstram que há terras disponíveis suficientes para se elevar a produção agrícola sem que seja necessário devastar a Amazônia. Estudo da USP comprova que, somente nas áreas de pasto - terrenos já modificados -, há terra fértil suficiente para dobrar a atual produção de grãos.

A verdade é que precisamos de outro projeto de desenvolvimento. Nossas florestas não são balcões de negócio, são bens de interesse comum. Os impactos do desmatamento são altamente negativos, sobretudo para o efeito estufa, cuja redução está entre os compromissos internacionais do Brasil. Mudar o Código Florestal não vai ajudar a atingir esta meta. Pelo contrário.

Para o próprio Ministério Público, o cenário nacional e internacional de discussão do aquecimento global e as perspectivas de obrigação de introdução de novos modelos de desenvolvimento sustentado são adversos a mudanças desse porte. É isso o que afirmamos no voto em separado que apresentamos à Comissão Especial e que lutaremos para aprovar. A natureza agradece.

* Ivan Valente é deputado federal pelo PSOL/SP, líder da bancada do partido na Câmara, e membro da Comissão Especial do Código Florestal.

Trabalho de Brecht ganha nova edição




Será lançada no dia 3 de julho, sábado, às 19 horas, no Estúdio do Latão, a nova edição do livro "Trabalho de Brecht", de José Antonio Pasta, professor de literatura brasileira da USP, pela Editora 34. A comemoração contará com a participação dos grupos teatrais Companhia do Latão, Companhia do Feijão, Teatro de Narradores, Companhia Ocamorana e Grupo Folias D’arte. Na ocasião, haverá um coquetel e fala do autor sobre a obra. Lançado originalmente em 1985, "Trabalho de Brecht" é considerado um dos mais importantes estudos sobre o autor alemão publicados em português.

Redação

Lançado originalmente em 1985, "Trabalho de Brecht" é dos mais importantes estudos sobre o autor alemão publicados em português. Escrito como dissertação de mestrado, o livro discute as várias dimensões e sentidos do projeto clássico de Brecht.

A primeira edição, esgotada há muitos anos, influenciou a pesquisa artística de muitos grupos teatrais de São Paulo, que participam agora da homenagem ao autor.

A obra passa a integrar a mais respeitada coleção da editora, a Espírito Crítico.

Em "Trabalho de Brecht: breve introdução ao estudo de uma classicidade contemporânea", José Antonio Pasta estuda a produção da obra madura de Brecht em seu contexto contemporâneo. Não começa pelas primícias do autor mas, sim, pelos momentos decisivos em que a experiência literária do jovem escritor alemão chega a seus embates frontais com a indústria cultural — isto é, com a forma-mercadoria, com o nazismo, o exílio e a guerra.

Da experiência dessa situação extrema vê-se então emergir, na obra de Brecht, um projeto estético e político que, da perspectiva deste estudo, terá como fio condutor a constituição de uma classicidade contemporânea, estratégica e de combate.

Tal projeto supõe, da parte de Brecht, um acerto de contas radical com o destino da Alemanha e sua herança cultural, e, no limite, com a própria modernidade, considerada em seus pressupostos e promessas. Nesse sentido, a análise de José Antonio Pasta se orienta pela leitura de Marx feita por Brecht, assim como sua retomada das bases hegelianas da dialética.

O AUTOR É PROFESSOR DA USP

José Antonio Pasta é mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada e doutor em Literatura Brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Realizou estágio pós-doutoral na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris em 1995/1996. Desde 1984 é professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas das USP. Foi também professor-associado na Universidade de Paris III — Sorbonne Nouvelle, em 2001/2002.

ESTÚDIO DO LATÃO

Rua Harmonia, 931 (próximo ao metro Vila Madalena)
Dia 03 de julho às 19 horas
Informações: 38141905

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A história acontece como tragédia e se repete como farsa

Viúva de Roberto Marinho organiza almoço para Dilma
por: Helena Sthephanowitz

Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho, da TV Globo, está organizando almoço em torno de Dilma Rousseff (PT). Os convidados vão se reunir na célebre casa do Cosme Velho, no Rio, onde Marinho recebeu praticamente todos os governantes brasileiros.

E a grande preocupação de empresárias e socialites que se reuniram na sexta com Dilma na casa de Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, era saber como ela, se eleita presidente, lidará com "os radicais do PT". "Lula conseguiu segurá-los. E ela? É nosso medo", diz uma das convidadas. Dilma disse que o PT é seu "menor problema", pois "amadureceu" no poder. Quem não se adaptou deixou o partido

Dilma contradisse o adversário, José Serra (PSDB), que afirma que a Bolívia exporta "90%" da cocaína consumida no Brasil. No ranking dela, o primeiro "exportador" é a Colômbia, seguida de Peru e então Bolívia. Em relação às diferenças entre os países da América Latina, "ela deu uma brincada e falou rindo: "Temos que aceitar que os mais parecidos conosco são os argentinos mesmo'", relata uma das presentes.

E a ex-ministra fez uma revelação às convidadas: o BNDES financiará estádios de no máximo 40 mil lugares para a Copa de 2014, para que depois não virem elefantes brancos. A CBF de Ricardo Teixeira pressiona o Estado de São Paulo a construir arena de 60 mil lugares.Notas da coluna de Mônica Bergamo

Governo Lula faz anti-reforma agrária, diz Dom Tomás Balduino Ter, 11 de Maio de 2010 08:25

Adital - Dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás, em visita a Berna, Suíça, diz que Governo Lula faz Anti-reforma Agrária.

Em entrevista à swissinfo.ch, o bispo emérito de Goiás, Tomás Balduíno, co-fundador e conselheiro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), faz duras críticas ao governo Lula na questão da reforma agrária. "O que há de reforma agrária no Brasil é conquista da terra", diz. Para ele, distribuir terra sem dar infraestrutura é forçar a favelização do campo. "E o autor da favela se chama Lula", dispara.

"Nem parece bispo, mais parece um caboclo", brinca dom Tomás Balduíno ao olhar na câmera digital a foto que ilustra esta entrevista, tirada no quintal da casa em que ficou hospedado em Berna.

Ele veio à Suíça no último final de semana para representar a CPT, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na entrega do "Prêmio Norte-Sul" ao ativista brasileiro Franklin Frederick.

Depois disso, participou de debates e manteve contatos com organizações das igrejas católica e protestante suíças (Fastenopfer e Heks), que apóiam, entre outros, projetos da CPT, do Movimento dos Sem-Terra e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) no Brasil.
Na capital suíça, swissinfo.ch conversou com dom Tomás Balduíno sobre reforma agrária, um assunto que ele acompanha de perto há décadas.

Confira a entrevista:

-swissinfo.ch. Um padre e agente da CPT chamou de cínica a atual reforma agrária e disse que o Incra deveria se chamar Instituto Nacional Contra a Reforma Agrária? O senhor concorda com essa opinião?
-Dom Tomás Balduíno: É uma anti-reforma agrária porque põe em ação todos os mecanismos que favorecem o latifúndio, a passagem da terra em grande quantidade às grandes empresas, sobretudo às de exportação de etanol, celulose, soja etc. O plano do governo desconhece os apelos de cinco milhões que querem a terra de viver e trabalhar.
Desde o início da redemocratização em 1985 foram assentadas 1.118 mil famílias - segundo o Incra, quase a metade desse total de 2003 a 2008. Diante desses números, não é cinismo dizer que o Brasil não faz reforma agrária?
Dom Tomás Balduíno: Acontece reforma agrária, porém, não da parte do governo. O que há de reforma agrária no Brasil é conquista da terra, e muitas vezes na forma da ocupação da terra improdutiva pelos trabalhadores. O governo está diante de fato consumado. É uma política compensatória, de ir onde há conflitos e procurar resolver pelos mecanismos governamentais.

-Segundo o último levantamento da CPT, os conflitos no campo estão diminuindo. Isso não é um bom sinal?
-Dom Tomás Balduíno: Muitas vezes o pessoal acha que a CPT se alegra com o aumento dos conflitos. Isso seria uma posição um pouco masoquista. O fato de levantar os conflitos é um pouco dar voz aos que não têm voz nem vez. Porque muitas vezes esses conflitos se dão no interior da floresta e eram destinados a ser sepultados na mata. E a CPT flagra. Isso tem servido até para baixar os conflitos. Os conflitos de morte de fato baixaram. Mas nós temos observado que o trabalho escravo tem aumentado os dados dos conflitos. Onde o agronegócio é mais florescente, mais trabalho escravo há. Talvez aquilo que outrora funcionava muito bem como a chacina, hoje aconteça na forma de um serviço mal pago, de arrebanhar os pobres do Nordeste para vir trabalhar na cana, onde eles morrem silenciosamente de doenças do trabalho, não morrem matados. Mas tudo isso a CPT vem levantando como uma situação insustentável.

-O senhor propôs que terras produtivas sejam usadas para a reforma agrária. As improdutivas estão acabando?
-Dom Tomás Balduíno: Há um plano de limite da propriedade da terra, onde a reforma agrária obteria terra. Atualmente no Brasil não há legislação que limite o latifúndio. A proposta é incluir na Constituição, no sentido do comprimento da função social da propriedade, um limite de acordo com o módulo fiscal de cada região. Durante a campanha eleitoral, Lula pediu ao Fórum Nacional de Reforma Agrária para parar um pouco aquela campanha, que envolveu também a CNBB, com o compromisso de que, uma vez eleito, ele continuaria o projeto de limite da propriedade da terra. O Fórum aceitou, com essa condição, e Lula não cumpriu a promessa.

-A Igreja cobra a reforma agrária, mas ela também disponibilizaria terras para esse fim ou já fez isso?
-Dom Tomás Balduíno: Em 1996, a CNBB pediu ao Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais) um levantamento das terras da Igreja para ver o que havia de terra disponível - as igrejas no passado tiveram muita terra, todas as dioceses foram latifundiárias. Resultado: hoje não têm. São 260 dioceses. O total que estaria disponível seriam uns 400 mil hectares. É o que uma fazenda dos Marchesi na minha diocese de Goiás tem de propriedade. Na publicação da pesquisa os bispos das dioceses que tinham terra disponível se comprometeram a entregá-la ao Incra para a reforma agrária.

Um dos líderes do Movimento dos Sem-Terra, João Pedro Stedile, disse à revista Época que o projeto de reforma agrária defendido pelo MST durante 20 anos se esgotou e que o Brasil perdeu várias oportunidades históricas para fazer a reforma agrária. Os sem-terra lutam por uma causa perdida?
Dom Tomás Balduíno: Perdeu do ponto de vista oficial, não do ponto de vista da luta, que continua sob diversas formas. Isso é um fato que não retrocede na política dos movimentos. A reforma agrária no sentido de colocar o pessoal na terra, depois esquecê-lo sem infraestrutura de estrada, postos de saúde e escola, é forçar mesmo a favelização. A favelização vem de cima para baixo, imposta pelo governo. É claro que todo sistema social gigantesco, como a reforma agrária, supõe recursos. Não é assim que o governo alimenta com o BNDES a celulose e o etanol? Vá ver os bilhões que solta em favor disso e as migalhas soltadas em favor da reforma agrária. Como não ter favela? Mas quem é o autor da favela? O autor da favela se chama Lula.

-Segundo um estudo da Universidade Estadual Paulista, para cada pessoa que entra na terra, via projetos de reforma agrária, duas estão saindo. Não faria mais sentido dar emprego em vez de terra aos sem-terra?
-Dom Tomás Balduíno: Esse argumento já foi usado para resolver o problema dos povos indígenas. Mário Andreazza (ex-ministro dos Transportes responsável pela construção da Transamazônica) propôs colocar os índios em apartamentos e pagar-lhes um salário em vez de procurar terras para eles. Isso é uma miopia. É olhar a solução dos problemas só em face daquele que está faminto e sendo tratado como subumano.
A questão da reforma agrária é uma questão de Projeto Brasil. Terra é mais do que terra. Não é só o pedaço de chão de viver e trabalhar. Terra é ecologia, saúde da água, do solo, do subsolo, dos micro-organismos. Isso é destruído pelo agronegócio. E o governo fecha os olhos a essa destruição.¨

-O que o senhor espera do governo pós-Lula na questão da reforma agrária?
-Dom Tomás Balduíno: Se a sucessão de Lula limpar o governo da presença das organizações populares haverá um avanço brutal da direitona. Aí acaba tudo, é o arraso geral. E o Brasil está numa posição muito boa para atrair a cobiça internacional. É um bom negócio para quem está no governo. Hoje o governo é o maior capitalista do país. É o aliado de todos os capitalistas. É o chefe que tem a chave do cofre. Parece-me que a sucessão de Lula passa pela Dilma (Roussef). E o relacionamento dos movimentos populares com essa mulher, quando ela era ministra das Minas e Energia, não foi bom. Em todo o caso não é o desastre que se espera se, por exemplo, José Serra for eleito presidente da República.

Berna, Suíça, 08/05/2010